Os recordes se estendem para longe do Morumbi, afinal Rogério é o maior goleiro artilheiro do mundo (90 gols), recordista de jogos no Campeonato Brasileiro (403), foi eleito o craque do Nacional de 2007 e se tornou o único a jogador da América do Sul, em toda a história, a ter participado da eleição final da revista France Football para a eleição da Bola de Ouro (melhor jogador do mundo). Terminou na 27ª colocação na temporada 2007.
Nesta terça-feira, o paranaense de Pato Branco, aos 37 anos, marido de Sandra e pai das gêmeas Clara e Beatriz, hoje com cinco anos, escreverá o capítulo mais nobre de sua história como jogador ao completar 20 anos no clube do Morumbi. Ou, como o próprio camisa 1 diz, a sua segunda casa.
- Eu só tenho a agradecer, principalmente porque o São Paulo é uma extensão da minha vida. Como minha esposa, minhas filhas, tudo que conquistei devo a esse clube. Agradeço ao São Paulo porque todos trabalham para esse clube ser cada vez maior. São 20 anos de muito trabalho, de um trabalho que cada vez me dá mais prazer. Faço tudo aqui com muito carinho, com muito amor – lembrou o jogador, emocionado após receber a placa da diretoria na manhã da última segunda-feira, no salão nobre do estádio do Morumbi.
Muita coisa mudou em duas décadas. Menos a paixão entre Ceni e o São Paulo
- É uma coisa engraçada pensar no que mudou em 20 anos. Hoje, estou mais experiente, mais careca (risos). Os anos foram caminhando, e a minha paixão pelo São Paulo só foi aumentando. Hoje, não consigo me imaginar jogando futebol sem ser com a camisa do São Paulo. Meu carro parece que está sempre no automático, vai sozinho para o CT. Vestir essa camisa é algo que dá motivação todos os dias e não tenho dúvida de que isso vai acontecer até o último dia da minha carreira - afirmou.
Nesses 20 anos, Rogério viveu imensas alegrias. Conquistou títulos, contabilizou recordes, chegou à Seleção Brasileira. Mas também teve decepções. Por duas oportunidades, essa história que hoje completa Bodas de Porcelana esteve perto de não acontecer. Por isso, o GLOBOESPORTE.COM montou uma linha do tempo para enumerar os principais fatos da carreira de um dos maiores nomes da história do clube do Morumbi.
Pressão logo no primeiro teste
Quinta-feira, 6 de setembro de 1990. Por influência de um conselheiro, Rogério Ceni deixou para trás propostas do Santos, Bragantino e Ferroviária e veio para a capital paulista para fazer um teste no São Paulo. Com 17 anos, a cidade grande já deixou o garoto muito assustado.
- Quando cheguei à cidade, uma das primeiras coisas que eu vi foi o estádio do Morumbi. E era algo de outro mundo, gigante, impressionante. Principalmente porque, três dias depois do teste, foi lá que fui morar por quatro anos. Hoje, como moro perto, passo todo dia em frente e acho a coisa mais normal do mundo – afirmou, rindo.
Voltando ao teste, Rogério Ceni fez aquecimento com o então preparador físico Sérgio Rocha e depois fez alguns trabalhos com o preparador de goleiros dos juniores, Gilberto. No intervalo, veio a oportunidade.
- O Forlán (Pablo, ex-jogador) era o técnico. Foi alguns meses antes do Telê chegar. O Gilberto fez alguns trabalhos específicos. Olhei para o campo onde o time principal treinava e vi o Gilmar de um lado e o Zetti do outro. Tinha eu e o Marcos como opções. Fui superbem, mas me lembro que tomei um golaço do Leonardo, de cavadinha. Ele saiu cara a cara comigo, eu tapei o canto e ele mandou por cima. Mas esse teste nunca vai sair da minha cabeça. Quando cheguei, não sabia o que aconteceria. E, minutos depois, estava num coletivo do time principal. No dia 7, fui ao Morumbi preencher toda a papelada e, dois dias depois, já estava morando no time do Morumbi - lembrou o goleiro.
Rogério não demorou muito e subiu para o time júnior. Em 1992, subiu para o time profissional, como terceiro goleiro, já que o reserva imediato de Zetti, Alexandre, havia morrido em um acidente de carro. No ano seguinte, voltou aos juniores para disputar e conquistar a Copa São Paulo daquele ano contra o Corinthians. Curiosamente, naquele time estava o zagueiro Sérgio Baresi, que hoje comanda o time profissional. Quando retornou ao profissional, logo depois, foi oficializado como reserva imediato de Zetti. No mesmo ano, fez sua estreia no time de cima, no troféu Santiago de Compostela, na partida contra o Tenerife, que terminou 4 a 1 para o Tricolor.
Paciência, paciência, paciência
- Eu respeitava muito o Zetti, mas queria jogar. Fui ao presidente Fernando Casal Del Rey e apresentei a proposta. Ele me disse para ter paciência que, no final do ano, o Zetti ganharia passe livre como uma forma de reconhecer tudo de bom que ele fez para o clube. E que, quando isso acontecesse, eu viraria titular. Nessa conversa, renovei meu contrato por dois anos e tudo que o presidente havia dito, aconteceu.
Nos treinamentos, Rogério crescia cada vez mais de produção e também se destacava com a bola nos pés. Um dia, começou a treinar faltas e, animado com os resultados, resolveu que tentaria se aperfeiçoar. Em determinados treinos, chegava a bater 40, 50 faltas. E o que ele tanto sonhava aconteceu no dia 15 de fevereiro, quando autorizado pelo então técnico Muricy Ramalho, foi ao ataque e, com uma cobrança perfeita, no canto esquerdo do goleiro Adinan, Ceni marcava seu primeiro gol de falta.
Rota de colisão com o presidente em 2001 quase o levou para o Cruzeiro
Em 2001, certamente Rogério Ceni viveu seu momento mais difícil dentro do clube. O então presidente Paulo Amaral acusou o jogador de inventar uma suposta proposta do Arsenal (ING) para ganhar aumento salarial. As duas partes entraram em rota de colisão, e o goleiro foi suspenso por 29 dias, quando também não recebeu salários. Até hoje, ele não esconde o incômodo com tudo o que ocorreu.
- Nunca mais tive contato com ele (Paulo Amaral) e nem quero ter. Guardo ressentimento de como ele tratou a questão. Não tinha por que ser assim. Quando o Juvenal assumiu, eu recebi uma proposta da Grécia e levei ao conhecimento do presidente, que preferiu não me vender O outro foi intransigente. Hoje, cada um tem sua importância no clube. Ele representa o clube apenas pelos dois anos em que foi presidente. Se eu pudesse, falava toda a verdade dessa história. Mas é melhor eu ficar quieto - afirmou.
Nessa época, Ceni esteve a um passo de se transferir para o Cruzeiro. Seria trocado por André e o clube mineiro ainda dava uma excelente compensação financeira. O negócio acabou não saindo e, na eleição seguinte, Paulo Amaral foi derrotado por Marcelo Portugal Gouvêa que, em um dos seus primeiros atos, renovou o contrato do camisa 1.
Passada essa turbulência, Ceni então virou o símbolo de uma equipe que, após ter passado anos brigando apenas pelo título estadual, voltou a se destacar no cenário nacional e sul-americano. Em 2003, o time garantiu o direito de voltar a disputar a Libertadores, o que não acontecia desde 1994. Em 2004, apesar da queda na semifinal diante do Once Caldas, a certeza de que o time estava no cominho certo. E isso acabou se comprovando em 2005, com os títulos paulista, da Taça Libertadores e do Campeonato Mundial de Clubes.
Entre 2006 e 2008, o São Paulo foi soberano no Brasil, conquistou o tricampeonato nacional e tornou-se o único time a ter seis títulos brasileiros. Em 2009, Ceni conheceu a pior lesão da sua carreira ao quebrar o tornozelo esquerdo num treinamento. Foram quatro meses de uma longa ausência. Hoje ele celebra o fato de voltar a atuar em alto nível. Em 2010, apesar da seca de títulos da equipe, ele contabilizou mais um recorde para sua carreira: o de maior artilheiro da história do clube na Taça Libertadores da América, com 11 gols.
Todo esse sucesso faz um senhor de 72 anos ir às lágrimas quando fala do filho. Em Sinop, onde mora o seu Eurydes, disse que seu coração está saindo pela boca de tanta alegria pelo sucesso de Rogério Ceni no São Paulo.
- Eu sou suspeito para falar do meu filho. Além de um filho maravilhoso, é um pai maravilhoso, tem um carinho muito grande com as filhas. Como jogador, não há o que dizer, os fatos e recordes dizem por si só. O Kiko (apelido do filho) é um privilegiado. No ano passado, quando ele se machucou e muitos duvidaram da sua recuperação, conversamos e senti muita vontade. Não tinha dúvida de que ele voltaria ainda melhor. E foi o que aconteceu. Vou fazer questão de ligar para ele e falar tudo que tenho vontade. O problema é que sou emotivo, vou chorar. Mas não tem importância. Ele merece tudo que a vida está lhe dando - concluiu o pai, feliz da vida.
Bate bola com o capitão são-paulino
O que falta ainda conquistar no São Paulo?
Alguém vai quebrar a sua marca de 20 anos?
Técnico mais importante em sua carreira no São Paulo?
No futuro pretende ser presidente?
Que avaliação faz de Sérgio Baresi?
Ele tem uma personalidade que precisa ser destacada. Com 37 anos, resolveu assumir uma obrigação que muitos recusariam. Eu mesmo não sei se estaria pronto. Ele é um cara muito trabalhador, estivemos juntos no início da carreira e, após um período muito ruim, o time começou a dar sinais de reação. Quem acha que eu interfiro na escalação dele não sabe nada. Ele escala, ele mexe, ele é o treinador. Eu apenas falo o que acho que seja necessário. Errado seria se eu falasse para ele tirar um jogador e botar outro. Isso eu nunca vou fazer.
Vai jogar bem até o final do contrato? Existe a chance de renovar?
FONTE: Globoesporte.com
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